quarta-feira, 29 de julho de 2009

Reconhecimento de mãos

Entrelaçados os dedos de duas mãos distintas.
Mãos que não são imagens especulares.
Mãos que têm uma história diferente.
Há mãos que querem ser pernas.
As mãos finas da massagista chinesa.
Mãos sofridas da artesã mexicana.
Há mãos que impõem ordens.
Mãos que pedem a benção.
Mãos que rezam, mãos que pecam e mãos que choram.
Existem mãos que cortam e costuram.
Há aquelas mãos que fabricam o universo.
Mãos que estão ali para dar apoio.
Mãos que dançam e que cantam.
Têm mãos que agarram as chances com força.
Há mãos que catam migalhas do chão.
Mãos que dormem.
Mãos que lavam outras mãos.
Há mãos que escondem segredos.
Mãos que sofrem com medo.
Mãos sem identidade própria.
As mãos que são frias como o gelo.
Há outras mãos que trazem o calor e a ternura.
Mãos que acariciam.
Mãos que insistentemente perturbam.
E aquelas mãos desconfiadas...
Quais mãos estão nos seus braços?

domingo, 12 de julho de 2009

Centro

A passos curtos chegou-se ao fim da estrada. Distantes rostos, resquícios de memórias vivas na entidade abstrata de cada ser. O fio da vara de pescar enrrolou no arbusto e retirou sete folhas do galho mais robusto. A história individual do homem e a sua importância.
Na negativa, a fotografia revela sua prece. Estranho retrato a inocular sua idéia no cérebro infantil. A caneta no porta-lápis. Riscos e rabiscos e as luvas sujas de tintura preta. O pastel, os lipídeos e o pâncreas. Três trechos de textos sem contexto na última página do livro.
A ordem crescente das horas e dos fatos. O último sibilo do dia a reunir suas almas. Os passos firmes, as sacolas erguidas nas mãos e a salada de frutas a manchar a camisa. Ironia do destino, presente inevitável do incerto em suas mãos. O incasável vento frio das manhãs na nuca do Sol. O fruto exposto ao miasma turvo do vulto humano.
Olhos castanhos a olhar-se mutuamente durante dez segundos. Por trás do vidro, um outro vidro. O último gole de água gelada. Colapso de vozes e de ações vitalícias.