sábado, 21 de agosto de 2021

Jaula

Paredes arqueadas em meia esfera.
Conexão por tranças de ferro.
Invasão por pouca luz e muita sombra.
Vestem-se máscaras para sobreviver.
Onde proteção é armadilha.
Sorrisos e corações. 
Sagacidade versus encantamento.
A defesa que impede o mal também aniquila o bem.

Data not found

An opened slot.
Crushed dreams, empty road.
Memories fading out.
No faces, no selfies.
Teasing a desire, decoding chips.

terça-feira, 15 de junho de 2021

花火

Da janela de outrora se veem os fogos.
Não é ano novo e festas ainda são proibidas.
Como um espetáculo particular de estrondos.
No silêncio da noite, um festival de cores fora de época.
Seria vitória ou desdém?
Explosões cadenciadas em três dimensões.
Sons e geometrias em pontos de luz que esvaecem.
Competindo com as estrelas no céu soturno.
Misturando começo, meio e fim.
Da janela de agora se viam flores.
E quase nada a mais.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Espólio

Retirando pedaços da própria carne enquanto raciocina o próximo ato.
Atraindo pecados como um ímã, que alimenta as almas famintas.
Drenando energia, queimando o doce diluído em sangue imaculado.
Regurgitando e engolindo as palavras, dia após noite.
Sendo consumido pelas próprias chamas, como a fênix.
Sucumbindo em autoflagelo, castigo por não negar demais.
Prendendo e liberando o ar vital, em ritmo frenético de batalha.
Destruindo as barreiras da redoma, por mera influência do contexto.
Encontrando aquilo que mais se abomina, no que restou de si mesmo.
Perdendo o tempo, o perfume das rosas e o significado das próprias palavras.
Exalando um odor visceral, que marca a memória como uma brasa ardente.
Deixando sonhos idealizados em suspensão, desenganados pela rotina ofuscante. 

sábado, 10 de abril de 2021

Sem vida

Entre sorrisos meia-boca.
E abraços sem vigor, que soltam.
Em traje metálico a ocultar a face real.
Ilusões disfarçadas de mágica.
Cálculos programados como um robô.
Lentes de aumento sobre as peculiaridades.
Músculos sustentados numa estrutura desorganizada.
Pensamentos rodopiando no mesmo eixo.
Sentimentos sabotando convicções da razão.
Vivendo o medo dos outros.
No inferno que é frio.
Num silêncio que pode ser escutado na solidão do carro fechado sem passageiros.
As trevas preenchem o que bloqueia a luz.
Duas faces opostas entre as grades.
Duplicidade digital em duas cidades.
Do desconhecido vêm as respostas mais sinceras.
Quanto tempo foi vivido em meio vazio?
Não há sombras quando a paz habita.