Mônica é uma deficiente visual desde que nasceu. Nunca havia visto o pôr-do-sol, a lua cheia nem um arco-íris. Vivia em casa, geralmente solitária, ouvindo algumas canções e histórias sobre bruxas e fadas contadas por sua mãe. Ela aprendera muito pouco sobre a vida das pessoas saudáveis. Costumava imaginar como seria o mundo ao seu redor, a natureza, a forma das casas e edifícios, utilizando os seus outros sentidos.
Estava chegando o nono aniversário de Mônica. A mãe da menina perguntava todos os dias o que a garotinha gostaria de ganhar nessa data. Ela sempre respondia a pergunta da mãe com as mesmas frases:
– Quero apenas que toda a minha família esteja unida a mim nesta data tão especial. Não exijo presentes materiais. Exijo apenas sua presença, mamãe, e a do papai. Convide também a nossa querida vizinha. Ela sempre fica comigo quando você tem que sair.
A mãe abraçou a filha com tanta força, após escutar aquelas palavras, que a menina forçou a respiração.
No dia do aniversário, Mônica e sua família rezavam quando a campainha soou. Era a vizinha e sua filha, que tinha a mesma idade que Mônica completava no dia. A garota olhava para a aniversariante com desprezo, enquanto a mesma abraçava-a com ternura e agradecia pela presença.
Enquanto seus pais conversavam com a vizinha, Mônica iniciava uma conversa com Lúcia, a filha da vizinha. A aniversariante contava como era o mundo na sua cabeça, o quanto era bonito o canto dos pássaros e como a sensação da brisa do vento no rosto era gostosa. Lúcia não se interessava pela conversa da menina, parecia não ouvir tudo aquilo que lhe era dito. Então, ela interrompe o pensamento de Mônica e diz:
– Não agüento mais ouvir suas metáforas! Você não passa de uma cega que não sabe o que é viver. Parece acreditar que o mundo é um conto de fadas, que os problemas não existem. A violência, o preconceito, a miséria estão em todos os cantos desse mundo! Será que você não enxerga isso? É mesmo, você não pode ler, não freqüenta a escola e não sabe quão dolorosa é a realidade.
Mônica escutou tudo aquilo e sorriu.
– Eu posso não ler livros ou estudar na escola em que você estuda, mas eu sei que o mundo está doente. É por isso que tento criar o meu mundo. Um lugar onde a felicidade seja o direito de todos. Manter a paz, a generosidade e a honestidade são os nossos deveres. Acreditar nesse mundo me dá forças para querer viver intensamente ao lado da minha família, cultivando o amor. Eu posso não ver com os olhos, todavia eu vejo com o coração. Se todos enxergassem o mundo dessa maneira, estaríamos salvos.
Lúcia olha para Mônica rapidamente e retira-se da festa.
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