Todos os dias, pela manhã, via a imagem daquele animal melancólico, que desafiava a vida inóspita a qual estava submetido com muita força. Era um cachorro pequeno, jovem, alaranjado, olhar distante, que havia perdido uma de suas pequenas patas, quando, enquanto dormia, um carro o atropelou.
Gostava de observar aquele animal sempre que possível. Ele vivia numa rua humilde e não possuía exatamente um dono. Enfrentava, sozinho, todas as adversidades da vida. Costuma correr, mas depois do acidente passou a andar cautelosamente e a observar melhor o caminho que percorria.
Apelidei o cachorro de Tripé, devido à sua condição física. Costumava observar ele por alguns segundos quando possível. Geralmente ele estava deitado, observando o fluxo dos carros e das pessoas. O cão observava também o comportamento dos outros cachorros, que apesar de serem saudáveis, não tinham a vontade de viver que ele tinha. Ele queria poder correr, ir para bem longe e achar a felicidade em alguma outra parte da Terra.
Um ano após conhecê-lo, percebi que ele parecia mais alegre. Acredito que tenha se acostumado com a sua situação de deficiente físico e percebido que não adiantava sofrer por muito tempo. Ele passou a andar em um ritmo mais acelerado, a latir buscando amigos. Tripé aprendeu a superar as dificuldades e passou a mostrar cada vez mais força e coragem perante os desafios da vida. Descobriu também um novo mundo ao observar melhor o ambiente enquanto andava cuidadosamente. Demorou um certo tempo para ele superar o acidente, porém ele o sobrepujou completamente depois de mais algum tempo.
Há poucos dias, descobri que ele faleceu. Já estava velho e uma família estava cuidando dele. Ele procurou achar sua felicidade e eu sei que conseguiu. Esse animal ensinou que não adianta fazer o sofrimento de uma perda ser maior do que a felicidade de termos vida. Tripé me mostrou que, apesar de todas as dificuldades que possam surgir ou ser vivenciadas por nós diariamente, devemos achar a força que há dentro de nós e notar cada peculiaridade que existe na nossa jornada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário