quinta-feira, 4 de maio de 2023

The candle

I'm the light and the smoke,
The heat and the burn.
I'm the birthday and the funeral,
The hope and the sorrow.
I'm the bless and the curse,
The wax and the melt.
I'm the donator and the receiver,
The smelly and the smell.
I'm the rope and the ash,
The pray and the war.
I'm the gift and the trick,
The start and the end.

sábado, 21 de agosto de 2021

Jaula

Paredes arqueadas em meia esfera.
Conexão por tranças de ferro.
Invasão por pouca luz e muita sombra.
Vestem-se máscaras para sobreviver.
Onde proteção é armadilha.
Sorrisos e corações. 
Sagacidade versus encantamento.
A defesa que impede o mal também aniquila o bem.

Data not found

An opened slot.
Crushed dreams, empty road.
Memories fading out.
No faces, no selfies.
Teasing a desire, decoding chips.

terça-feira, 15 de junho de 2021

花火

Da janela de outrora se veem os fogos.
Não é ano novo e festas ainda são proibidas.
Como um espetáculo particular de estrondos.
No silêncio da noite, um festival de cores fora de época.
Seria vitória ou desdém?
Explosões cadenciadas em três dimensões.
Sons e geometrias em pontos de luz que esvaecem.
Competindo com as estrelas no céu soturno.
Misturando começo, meio e fim.
Da janela de agora se viam flores.
E quase nada a mais.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Espólio

Retirando pedaços da própria carne enquanto raciocina o próximo ato.
Atraindo pecados como um ímã, que alimenta as almas famintas.
Drenando energia, queimando o doce diluído em sangue imaculado.
Regurgitando e engolindo as palavras, dia após noite.
Sendo consumido pelas próprias chamas, como a fênix.
Sucumbindo em autoflagelo, castigo por não negar demais.
Prendendo e liberando o ar vital, em ritmo frenético de batalha.
Destruindo as barreiras da redoma, por mera influência do contexto.
Encontrando aquilo que mais se abomina, no que restou de si mesmo.
Perdendo o tempo, o perfume das rosas e o significado das próprias palavras.
Exalando um odor visceral, que marca a memória como uma brasa ardente.
Deixando sonhos idealizados em suspensão, desenganados pela rotina ofuscante. 

sábado, 10 de abril de 2021

Sem vida

Entre sorrisos meia-boca.
E abraços sem vigor, que soltam.
Em traje metálico a ocultar a face real.
Ilusões disfarçadas de mágica.
Cálculos programados como um robô.
Lentes de aumento sobre as peculiaridades.
Músculos sustentados numa estrutura desorganizada.
Pensamentos rodopiando no mesmo eixo.
Sentimentos sabotando convicções da razão.
Vivendo o medo dos outros.
No inferno que é frio.
Num silêncio que pode ser escutado na solidão do carro fechado sem passageiros.
As trevas preenchem o que bloqueia a luz.
Duas faces opostas entre as grades.
Duplicidade digital em duas cidades.
Do desconhecido vêm as respostas mais sinceras.
Quanto tempo foi vivido em meio vazio?
Não há sombras quando a paz habita.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Ontem

Queria poder voltar para os sorrisos de outrora.
Um pressentimento, um aperto no peito bem desconfortável.
Sonhando acordado um passado que ainda é presente.
Como disparos que atravessam uma porta de metal, plástico e vidro.
Corpo que encolhe na sua conscienciosidade para proteger a matéria orgânica.
Sem direito a reciclagem ou separação em cestos coloridos.
Um sentimento de fuga, do pensamento para o momento real.
Uma onda sonora que assusta as aves mundanas em dispersão.
Olhos e ouvidos curiosos atraídos pelo cheiro prazeroso do medo alheio.
É tensão, ansiedade. É chorar muito proferindo umas poucas palavras.
São perguntas não respondidas, frases não ditas.
Afetos doces que não foram, mas voltaram amargos ou azedaram em si.
Enfim o fim sutil do livro que traz morte.
Hoje seria amanhã no ontem.
E hoje será ontem no amanhã.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Gelo

Método sólido de ser (inanimado).
Cubo pálido a flutuar sem rumo num ecossistema líquido.
Neve branca a cobrir os contornos deixados pelo outono.
Perda de calor progressiva que se sente espontaneamente.
Sorrisos que se apagam em série automaticamente.
Fusão de equilíbrio em avalanche num toque.
Devaneios carregados pelo vento frio do Ocidente.
Simbologias devoradas por ursos famintos da mente.
Maniqueísmo intrínseco do estado físico: congela-se ou derrete-se?
Iglu que divide um território inóspito em dois silêncios.
Tempestades de granizo que atingem alvos frágeis sem fazer anúncios.
Escolhas neutras realizadas em dias sombrios.
Iras ou irás?
Deveras ou deverás?
O tempo a determinar se há analgesia ou queimaduras.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Sinal amarelo

Hoje avançando sinais amarelos.
Parando na faixa.
Interditado na vertical por transportes e na horizontal por transeuntes.
Reprises de fatos e frustrações de anos anteriores em novas circunstâncias.

Ontem lembrando do que nunca foi lembrado.
Tensões, paixões, ilusões e frustrações que não aconteceram.
O dia espelho 02/02/2020 que passou batido.
Folhas, planilhas, listas e abas abertas empilhadas.

Agora havendo um sopro de palavras.
Decifrando mensagens.
Acordando em cores e adormecendo em preto e branco.
Deitando sob luz e levantando com chuva.


terça-feira, 30 de julho de 2019

Furor

Há espinhos invisíveis ao seu lado, alfinetes ao seu toque.
Um silêncio agressivo, uma palavra doce envenenada.
É como se o ritmo das coisas estivesse acelerado.
Não há tempo de impedir o que está para acontecer.
Há fumaça num vulcão em erupção, e cinzas à sua volta.
Um meteoro e a cratera que se abre no colapso.
As cicatrizes na pele e a kintsukuroi na porcelana.
Há vontade de gritar até quebrar os vidros das janelas.
Bater a porta com toda a força do mundo e não abri-la (nunca) mais.
Enterrar o rosto nas almofadas macias de outrora e rasgá-las com os dentes.
Respirar em sintonia com os batimentos cardíacos.
Há penas, pelos, papéis, perfumes, pós.
O bem sendo mal, o mau sendo bom.
Um prazer agressivo seguido de culpa e de relaxamento.