quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Melodia

As peças do tabuleiro estão sendo substituídas.
O jogo está prestes a virar... Quem será o perdedor?
As cartas estão marcadas.
A sorte já foi lançada e só nos resta esperar.
Do infindo, uma substituição de repertório.
Os rostos mudando, velhas idéias permanecem estagnadas.
Os perfis continuam parecidos, as fixações e frustrações ainda são semelhantes.
As piadas vão perdendo a graça. Os rostos vão sendo esquecidos...
Pela janela do carro eu vejo o dia.
O asfalto gasto de tom cinza claro, marcas de um longo percurso.
Até quando toda a canção terá ritmo?
Espero estar atento o suficiente para perceber a nota musical errada no momento em que ela for executada.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Passa.tempo

Debaixo da chuva pede sossego.
Queria estar deitado na sombra de um coqueiro.
Queria parar o tempo quando bem entendesse.
Queria poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Queria que o instante durasse o infinito.
Suportando as sombras nas costas o jovem estava prestes a sucumbir.
Suportando a teia de virtudes e razões lógicas.
Suportando o ritmo irreversível do dia após dia.
Suportando as alucinações e agouros pessimistas que o circundava.
Nas instâncias, cansado ficava.
O tempo passava e era cruel demais.
O tempo roubava lentamente sua juventude.
O tempo tornava em memória seus minutos felizes.
O tempo dissipava seu rosto, sua estrutura intrínseca firme.
Os patos no lago esmeralda.
As tartarugas no fundo do poço irrigado por uma espécie de bica.
O cão vira-lata que caminhando sozinho pelas areias da praia, parava e observava o limite final entre céu e oceano.

domingo, 25 de janeiro de 2009

12:34

Quando olho para o relógio vejo a seqüência correta.
Geralmente é noite e não há a intenção pensada de identificar a ordem numérica.
Talvez seja algum tipo de vício do meu organismo em localizar a tal hora.
A curiosidade em saber o horário sempre surge na hora em que vivo a dita hora.
Quando claro, mesmo em tempos sombrios, eu costumava identificar o um-dois-três-quatro-cinco-seis no meu relógio de pulso.
A vulga melhor hora do dia, que custava um segundo para acontecer e com um segundo desaparecia.

Olho o relógio nesse momento e vejo, mais uma vez (coincidência?), o um-dois-três-quatro na madrugada silenciosa do meu quarto.

Atropeladamente descriptografado

Na calçada espera o semáforo ficar vermelho.
Espera porque os carros estão vindo pela esquerda, virando na rua e passando na frente.
Aguarda alguns instantes com as lentes embaçadas, óculos antigos dourados.
Descera do carro de outrem sem muito suporte e atravessava avenidas desprotegido.
Caminhava despreparado para o mundo, livre de mãos.
Aguarda o sinal vermelho impaciente.
Aguarda, aguarda, aguarda, aguarda, aguarda...
No desvio de luz polarizada põe o pé na rua. Que estúpido!
Como pode alguém tão "inteligente" fazer isso?
O semáforo menos perigoso estava vermelho, porém o destruidor de vidas acabava de tornar-se verde.
Como pode avançar assim?
Caminhou alguns passos, notou barulhos, buzinas de moto.
Um utilitário importado cor-de-velho foi a última coisa que viu.
Recuou, puxou do bolso o celular. Alô? Ninguém estava ligando naquele momento.
Um reflexo de despreparo físico e mental. Fugindo da asneira tóxica.
A mandíbula estava azeda, áspera, tremulante e formigando.
Hã? Os outros carros dizendo: ridículo. Quase morre.
Sinal perigoso vermelho. Correu. Escapou dos carros que viravam rápido por sua esquerda.
Do outro lado encontrou segurança. Alívio. Sorte?
Estava vivo, nenhuma parte do corpo doía.
Alguém estava a olhar por ele naquele segundo-limite.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Na cadeira ni

Eram três vozes principais nesta peça.
A voz da natureza, representada pelo canto dos pássaros e pelo chocalhar das folhas nas árvores.
A voz da mente, representada pelos pensamentos e a consciência do personagem principal.
A voz do ser humano, representada pelos indivíduos que falavam ao telefone.
Mais uma vez estava amarrado àquele lugar enfadonho.
Naquele lugar pecou, condenou, julgou, atirou a primeira pedra.
Enganou-se mais uma vez.
As quatro pernas paralelas entre si criavam uma estabilidade para o corpo sem postura.
Os indivíduos passavam, as crianças brincavam no campo.
Sucumbia lentamente perante a visão do céu a escurecer.
Olhos cansados, pés inchados, mãos fechadas.
O tempo fugia por entre seus dedos enquanto esperava a grande mudança.
Aquilo não era seu ofício, não servia para os objetivos futuros.
Juntando os minutos perdia mais um dia. Perdia o êxtase pelo comprometimento.
E mais uma vez, na cadeira aguardava alguma novidade.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A velha gorda lorpa e o miado de gato

Não consigo recordar com exatidão que lugar era aquele. Parecia-me uma espécie de corredor de ônibus de viagem, com pessoas sentadas em seus aposentos em filas laterais.
Deixei minhas malas em umas das cadeiras, pareciam ter três cadeiras lado a lado, e saio de cena. Recordo rostos conhecidos a entrar em carros, colegas de trabalho ou de época escolar.
O telefone toca. Atendo, voz conhecida.
- Proteja-a, proteja-a, proteja-a! Tome cuidado com ela, preste atenção nela. Cuidado, cuidado, cuidado - uma voz familiar do outro lado da linha a me alertar.
Um tanto incompreensível aquele telefonema... Respondi que estava tudo bem, que não precisava se preocupar, pois nada iria acontecer.
Caminho entre as filas de cadeiras, entre a qual estavam minhas bagagens e a anterior a ela. Noto uma presença desagradável, uma aura alusiva à ira. O calor repentino na cabeça e a percepção de que você está sendo incompreendido.
Uma velha gorda e vestida de rosa, cabelos brancos e rosto roliço. Lembrava levemente a senhora com transtorno bipolar, só que bem menos bisonha e bem mais bizarra (no sentido depreciativo da coisa).
Resmungava sentava na minha cadeira para uma mulher na fila a sua direita, impedindo-me de passar entre as cadeiras. Fiquei mudo, escapei de suas teias macabras e fui ver se estava tudo bem com a mana.
Corte de ar e o miado do gato. Um miado agudo, frenético à madrugada. Que miado irritante, era um choro, uma lamentação às escuras. Deu medo. Almas penadas vagando pelo meu território. Não queria registrar esse momento naquele momento.
Retornei aos meus assentos e a velha gorda lá. Mais irritante dessa vez. Mais medonha, tosca e obesa do que antes. Uma lorpa. Fétida. Uma mulher funesta a me desafiar com olhar indiferente e ao mesmo tempo ofensivo.
Tentei retirar as minhas malas daquelas cadeiras quando ela, acho que para insultar, diz algo como:
- Essas malas não são suas, meu querido.
Não entendi. É claro que são minhas! O que ela queria, roubar-me? E tento puxar minhas malas a força.
- Não vou lhe dar as malas. Elas não são suas. Como posso ter certeza que são suas?
O que é que essa mulher queria? Que eu provasse que as malas são minhas, quem é ela? A justiceira-mor dos meus sonhos?
- Minha senhora, devolva minhas malas. Elas estavam aí por que eu as coloquei, esses assentos estão reservados para mim.
Ela ignorou e insistiu em segurar as bagagens na cadeira.
- A senhora está de brincadeira comigo? O que a senhora quer afinal, irritar alguém?
Não lembro se ela disse mais alguma coisa, talvez tenha dito. Só sei que o gato miava e miava e miava. O sono havia acabado e com ele o sonho.
Pela janela vi dois gatos que nem sabia que existiam ali. Dois gatos, um preto e um branco com manchas acastanhadas ou cinzas. O branco gritava e miava e chorava. Que irritante. Adentrou no mato e sumiu. O negro permanecia deitado na superfície frígida do piso de jardim.
Esquisito. Achei melhor repensar os meus preceitos e dormi novamente.

sábado, 3 de janeiro de 2009

The final countdown de Europe

We're leaving together,
But still it's farewell
And maybe we'll come back,
To earth, who can tell?
I guess there is no one to blame
We're leaving ground (leaving ground)
Will things ever be the same again?

It's the final countdown
The final countdown

We're heading for Venus and still we stand tall
Cause maybe they've seen us and welcome us all
With so many light years to go and things to be found (to be found)
I'm sure that we'll all miss her so.

It's the final countdown
The final countdown
The final countdown...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Dois mil mais nove

Mais um ano completa o ciclo vicioso.
Mais um giro adquire seu fim.
Que esse ano seja melhor que o que passou.
Dois mil mais nove: dois mil e nove: 2009.
Espero que o nove ainda seja número da sorte.
Felissaúde para todos e que os sonhos se tornem verdade.