domingo, 25 de janeiro de 2009

Atropeladamente descriptografado

Na calçada espera o semáforo ficar vermelho.
Espera porque os carros estão vindo pela esquerda, virando na rua e passando na frente.
Aguarda alguns instantes com as lentes embaçadas, óculos antigos dourados.
Descera do carro de outrem sem muito suporte e atravessava avenidas desprotegido.
Caminhava despreparado para o mundo, livre de mãos.
Aguarda o sinal vermelho impaciente.
Aguarda, aguarda, aguarda, aguarda, aguarda...
No desvio de luz polarizada põe o pé na rua. Que estúpido!
Como pode alguém tão "inteligente" fazer isso?
O semáforo menos perigoso estava vermelho, porém o destruidor de vidas acabava de tornar-se verde.
Como pode avançar assim?
Caminhou alguns passos, notou barulhos, buzinas de moto.
Um utilitário importado cor-de-velho foi a última coisa que viu.
Recuou, puxou do bolso o celular. Alô? Ninguém estava ligando naquele momento.
Um reflexo de despreparo físico e mental. Fugindo da asneira tóxica.
A mandíbula estava azeda, áspera, tremulante e formigando.
Hã? Os outros carros dizendo: ridículo. Quase morre.
Sinal perigoso vermelho. Correu. Escapou dos carros que viravam rápido por sua esquerda.
Do outro lado encontrou segurança. Alívio. Sorte?
Estava vivo, nenhuma parte do corpo doía.
Alguém estava a olhar por ele naquele segundo-limite.

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