Quando vi aquela cena pela primeira vez, senti uma sensação bastante esquisita. Era uma mistura de lembranças felizes com raiva, dor, ignorância.
Ela casara sem se importar com os pequenos defeitos do companheiro. Ele sempre metódico, organizado, responsável, e ela justamente o oposto. Casaram após dois anos de namoro na mesma igreja que os pais dela haviam casado. Estavam muito felizes, ela realizava um sonho. A cerimônia foi bela, a lua-de-mel seria uma semana na Nova Zelândia.
Os dois foram morar em um apartamento amplo, ela queria ter muitos filhos, planejava isso muitos anos antes de conhecer aquele que seria seu marido. A vida deles ia prosseguindo feliz e apaixonada, um sempre apoiando o outro nas dificuldades, até que algo mudasse na vida de ambos.
O amor tornou-se carinho. O carinho passou a ser simplesmente obrigação. Ele não aceitava mais ouvir as opiniões dela. Ela estava desfazendo toda a ordem da vida dele. Então os gritos começaram a soar nas noites cada vez mais nefastas.
Ele, covardemente, passou a feri-la. Palavras doces nunca mais foram ouvidas. Ela começou a ser ignorada, depois xingada. Até que ele partiu para a agressão física. As lágrimas desciam dos olhos dela, não por causa da dor física, mas por amar aquele homem mais do a que si própria.
As feridas foram aumentando progressivamente. Ele passou a beber e ela a tentar agradar, trazer aquele homem do passado para o presente. Entretanto, os desejos dela não puderam ser realizados. O marido havia esquecido o seu rosto. Ele havia se tornado um estranho e nada faria ele voltar para ela.
E, assim, com um salto ela separou o amor do sofrimento.
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