quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pena

O som das folhas secas carregadas pelo vento anunciava a proximidade do inverno. Ele estava sempre sozinho em seu quarto concentrado nos estudos. Era interrompido somente por sua avó que anunciava o horário das refeições. Era órfão, praticamente não tinha amigos. Sua família era simplesmente a avó materna.
Suspirou, abriu os olhos. Para onde ela teria ido? O sonho se tornara um pesadelo... Ou seria o contrário? Em sua cabeça dançavam pensamentos, sentimentos e sensações em completa desordem. Ele sentiu pela primeira vez o doce aroma dos pêssegos maduros.
Ergueu-se e apreciou a noite que o cercava. O céu estava claro, quase branco como a neve. Ele não sabia exatamente quais reações bioquímicas estavam ocorrendo em seu interior. Sem perceber, questionou se a ciência poderia definir o que ele estava sentindo. A estranha coloração da noite branda misturou-se com a íris escura de seus olhos. Isso fez ele ver além, perceber um esplêndido mundo novo.
Finalmente voltou a si. Ouviu o som das folhas secas, o frágil canto dos passarinhos e a melodia do vento atravessando uma fresta da janela. Sentiu palavras borbulharem de sua boca como se algo emergisse das profundezas de sua alma. Afinal, o que era a alma? Não sabia definir. O conhecimento da ciência jamais iria responder a essa pergunta.
A barreira havia sido quebrada. O garoto, já homem, ganhava asas e partia para o desconhecido. Deixava uma de suas penas nesse livro. A pena com suas memórias.

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